O ano de 2024 terminou apresentando um cenário econômico de muitos desafios futuros, a começar pela alta do dólar e pelo comportamento instável da Bolsa de Valores brasileira. Assim, a moeda americana encerrou o ano cotada a R$ 6,18, que representa uma expressiva alta de 27,35% no período. Por outro lado, o índice IBOVESPA mostrou um desempenho bem aquém das expectativas iniciais, refletindo as muitas dificuldades que o mercado acionário precisou lidar.
A alta do dólar: pressões do mercado e intervenções do governo
A expressiva valorização do dólar no encerramento de 2024, saltando de R$ 4,85 em janeiro para R$ 6,18 no último pregão do ano, levanta questões sobre essa nova realidade cambial. Durante o último dia de negociações, a moeda iniciou o pregão com a cotação em alta, atingindo o valor de R$ 6,24. No entanto, com a ação rápida do Banco Central, injetando cerca de 2 bilhões de dólares no mercado, houve, na sequência, uma contenção momentânea da volatilidade cambial. Mesmo com o aumento da liquidez e a redução das pressões sobre o câmbio com essa medida, o dólar fechou o ano em um patamar elevado.
Há dois fatores principais que explicam a desvalorização do real frente ao dólar. Em primeiro lugar, aparece o aumento do risco fiscal no Brasil que elevou a insegurança entre os investidores. Somado a isso, temos a força da economia americana, impulsionada pela expectativa de políticas expansionistas, além da elevação nas taxas de juros por lá. Assim, estamos diante de fatores determinantes para o direcionamento dos investimentos ao mercado americano, sendo o câmbio desfavorável, uma consequência natural.
Mesmo com as intervenções do Banco Central, o dólar deve continuar em patamares altos no início de 2025, segundo analistas. A permanência do risco fiscal no Brasil e o fortalecimento da economia americana dificultam a valorização do real. Além disso, a falta de medidas concretas para controlar os gastos públicos agrava as pressões cambiais. Por isso, o cenário cambial deve seguir desafiador no próximo ano, exigindo muita atenção, além de medidas fiscais e econômicas necessárias.
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Bolsa de Valores: expectativas, oscilações e frustrações
Da mesma maneira, a Bolsa de Valores brasileira passou por um ano de fortes oscilações, frustrando as projeções de analistas que esperavam um desempenho mais consistente. Embora o índice IBOVESPA tenha atingido um recorde histórico no mês agosto, as expectativas não se mantiveram, e o mercado foi perdendo força nos meses seguintes. Apesar da alta registrada no último pregão de 2024, não há o que comemorar, pois, o índice encerrou o ano em queda quando comparado ao início de janeiro.
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Esse comportamento, entretanto, é reflexo de um crescimento econômico acima da capacidade produtiva do país, gerando, desse modo, desequilíbrios previsíveis — o chamado “hiato do produto”. Essa situação elevou a inflação levando o Banco Central a aumentar as taxas de juros, com impacto direto no mercado financeiro. Além disso, a incerteza fiscal e as projeções econômicas mais pessimistas para 2025 aumentaram o receio dos investidores, a receita para a redução da confiança do mercado acionário ao longo do ano.
Como se não bastasse, no cenário externo, a economia americana também influenciou negativamente o mercado brasileiro. Com a tendência de juros altos e políticas expansionistas, os Estados Unidos estão atraindo os recursos de mercados emergentes como, por exemplo, o Brasil. Esse fluxo de capital para ativos americanos tende a permanecer com a posse de Trump e suas ideias protecionistas e, dessa forma, aumentar a pressão sobre os papéis por aqui, influenciando, também, a alta do dólar.
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O que esperar para 2025?
As previsões para a economia brasileira em 2025, divulgadas no Boletim Focus do Banco Central não são animadoras, apontando para um cenário de grandes desafios. Assim, a expectativa de inflação subiu de 4,84% para 4,96%, enquanto a projeção do dólar passou de R$ 5,90 para R$ 5,96.
Com isso, os números mostram o ceticismo do mercado quanto à capacidade do governo de equilibrar as contas públicas e alcançar estabilidade econômica. Assim, o Brasil inicia 2025 com projeções nada animadoras que reforçam a necessidade de ações fiscais firmes e robustas por parte do governo.
Para alguns especialistas, a melhora no cenário geral dependerá da implementação de medidas concretas para controlar os gastos públicos e otimizar investimentos. É possível dizer, até, que se precisa de medidas econômicas quase inéditas, livres, portanto, da frouxidão e dos atenuantes costumeiros.
Desse modo, o governo deve priorizar despesas que promovam o crescimento sustentável, além de adotar maior responsabilidade fiscal. No entanto, a ausência dessas ações pode manter um ciclo de projeções pessimistas, ampliando as dificuldades econômicas. Por isso, se faz necessária, uma abordagem mais eficiente e transparente nas contas públicas visando reverter o quadro atual.
Por outro lado, existe um mercado que permanece cético em relação à capacidade de implementação dessas mudanças. Os motivos para isso, infelizmente, não faltam, contrastando com a ausência de clareza sobre as políticas fiscais e os aumentos frequentes e sem critério nos gastos públicos.
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Medidas necessárias para o equilíbrio econômico
Para o Brasil enfrentar os desafios econômicos de 2025, será essencial adotar uma gestão fiscal mais equilibrada. O governo precisará demonstrar o que não conseguiu após 2 anos de mandato — compromisso com a redução do déficit público e com a contenção da dívida. Além disso, deve alocar os recursos disponíveis de maneira eficiente, priorizando áreas que promovam desenvolvimento sustentável. Sem isso, não haverá alterações relevantes na percepção do mercado quanto a sua credibilidade e capacidade de agir.
Ao mesmo tempo, a criação de um ambiente econômico favorável ao investimento é indispensável para facilitar o retorno do capital estrangeiro e estimular o crescimento. Portanto, políticas que incentivem a produtividade e melhorem a competitividade da economia devem ser implementadas de imediato. Essas medidas são imprescindíveis para proporcionar benefícios duradouros e boas perspectivas ao país.
Por outro lado, o sucesso dessas iniciativas dependerá de decisões rápidas e bem coordenadas entre os principais atores deste processo. Desse modo, sem estabelecer uma agenda clara de reformas, o Brasil carrisca prolongar os desequilíbrios econômicos atuais por ainda mais tempo, comprometendo o crescimento sustentável e dificultando a recuperação do poder de compra da população.
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Conclusão
Dessa maneira, o fechamento de 2024 trouxe sinais claros de que o Brasil enfrenta desafios econômicos que não deve desprezar. Com isso, a alta do dólar, somada à oscilação da Bolsa de Valores, reflete problemas estruturais que exigem atenção urgente. Logo, para 2025, o equilíbrio fiscal e a responsabilidade econômica serão fundamentais para estabilizar o câmbio, controlar a inflação e recuperar a confiança do mercado. Sem essas ações, o país continuará exposto às mesmas incertezas que afetam, ano após ano, o seu crescimento econômico.
Por fim, com medidas efetivas e maior disciplina fiscal, o Brasil pode reverter o atual quadro de incertezas e fortalecer sua economia. No entanto, se essas iniciativas não forem implementadas, as dificuldades econômicas devem se agravar, limitando o potencial de crescimento do país. Além disso, a ausência de uma estratégia econômica clara dificultará a retomada da estabilidade necessária para atrair investimentos e promover o desenvolvimento sustentável. Portanto, 2025 será um ano de desafios para a definição dos rumos econômicos do país.
Escrito por Mauro Motta, fundador do site Olhar Financeiro, editor do blog e especialista em planejamento e educação financeira pessoal, cujo objetivo é tornar o conhecimento financeiro acessível a todos.
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