O cenário econômico Global está vivendo momentos de muita tensão com o ressurgimento das políticas comerciais protecionistas. As tarifas de importação que antes eram apenas ameaças se tornaram realidade. Os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, iniciou uma cruzada de tarifação dos produtos importados. Isso tem gerado um ambiente de incertezas entre diversos países, especialmente na América Latina.
Essas medidas, que estão sendo classificadas como retaliações estratégicas, representam grandes desafios para as economias emergentes. Contudo, as nações afetadas ainda podem adotar medidas para se proteger, ou melhor, fazer uma contenção de danos, como, por exemplo, diversificando suas parcerias comerciais. Mas, na prática, isso é realmente viável?
O impacto das tarifas de importação na economia global
Quando as tarifas de importação são utilizadas com propósitos retaliatórios, não apenas os países diretamente envolvidos sofrem as consequências, mas toda a cadeia econômica global. Desse modo, há um aumento dos custos de produção e a redução da competitividade internacional, afetando tanto exportadores quanto consumidores.
Em alguns países, essas políticas afetam setores estratégicos da economia, como a produção agrícola e as manufaturas, cujas sobrevivências dependem diretamente das exportações. A curto prazo haverá benefícios à economia americana, mas, no nosso ponto de vista, tudo leva a crer, que não se manterão sustentáveis a médio prazo.
Além disso, os reflexos da adoção de tarifas de importação descabidas por uma economia tão influente quanto os EUA geram efeitos que extrapolam as fronteiras dos países diretamente afetados. Os parceiros comerciais, que são fornecedores intermediários, também sofrem consequências, desencadeando uma desaceleração econômica generalizada. Esse é um efeito dominó, para o qual, as economias emergentes devem se preparar.
Desse modo, o grande desafio para os países que, direta ou indiretamente, serão afetados é adotar políticas internas para mitigar esses danos. Os incentivos, a médio prazo, na produção local, podem minimizar as consequências, incluindo a concessão temporária de subsídios e desonerações fiscais dos setores atingidos. Tratam-se, porém, de soluções paliativas, longe do ideal — criam-se novas distorções para corrigir as antigas.
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Diversificação de parcerias comerciais como estratégia defensiva
A dependência excessiva de um único mercado para exportação de seus produtos é um risco para qualquer economia. Esse cenário se agrava quando o seu parceiro comercial é uma economia tão poderosa quanto a americana.
Os fatos recentes nos mostram como é importante diversificar o destino das exportações, reduzindo os efeitos das tarifas de importação retaliatórias e aumentando a estabilidade. Esse episódio nos mostra que já passou da hora para as economias emergentes, os movimentos na direção de mercados alternativos, com a Ásia e a União Europeia, aumentando seus negócios e reduzindo sua vulnerabilidade.
Neste aspecto, a China se apresenta como o grande parceiro estratégico, ampliando sua influência na América Latina. Seja através de acordos comerciais ou investimentos diretos, muitos analistas avaliam, ser esta, uma oportunidade de ouro para os países latinos diversificarem suas exportações.
Outra forma de ajuste envolve o fortalecimento dos blocos comerciais regionais. Ainda que as ideologias políticas tenham pautado as discussões nos últimos anos, as alianças econômicas como o Mercosul e a União Europeia têm potencial para promover parte do reequilíbrio econômico global.
O papel do multilateralismo em oposição às tarifas de importação
Um instrumento fundamental para lidar com as tarifas de importação retaliatórias é o multilateralismo. Nesse aspecto, a atuação conjunta nos fóruns internacionais, podem auxiliar os países afetados a pressionarem os Estados Unidos em busca de apoio junto aos demais membros. Não é razoável se imaginar que uma medida desta magnitude possa contar com a omissão da Organização Mundial do Comércio (OMC) no momento crítico atual.
Além disso, em situações como essa, é fundamental o fortalecimento das alianças regionais. Assim, a adoção de uma política comum, em especial entre os países latinos, trará mais peso nas rodadas de negociações. Como isso, o enfrentamento coletivo ao protecionismo americano possui mais chances de êxito que ações individualizadas dos países retaliados diretamente.
O apoio de parceiros internacionais, para além do bloco econômico, mesmo sendo mais complexo, também pode ser benéfico. Apesar das divergências existentes, especialmente no setor agrícola, é do interesse da União Europeia conter os avanços das políticas unilaterais americanas. Neste sentido, é possível que os europeus, em alguma medida, assumam um papel de mediadores deste conflito.
A diplomacia como ferramenta de combate à tarifas de importação
Em situações como essa, a atuação da diplomacia econômica, se faz ainda mais importante para evitar as consequências devastadoras das tarifas de importação indiscriminadas. Além disso, devemos ter na lembrança a justificativa distorcida, de segurança nacional, para essa ação extrema do governo Trump.
Apesar da complexidade dos movimentos diplomáticos, o momento é para agir. Um exemplo prático é a tentativa do contato direto com congressistas americanos, em especial aqueles que representam regiões beneficiadas pelas exportações do país afetado. Desse modo, um argumento que auxiliará na sensibilização desse fato é mostrar que as restrições tarifárias, a médio prazo, causarão escassez de produtos e o consequente aumento da inflação do país protecionista.
Além disso, é importante a prática permanente da diplomacia preventiva. Essa atitude não apenas permite identificar possíveis riscos no horizonte, como também antecipa ações antes que elas se tornem ameaças concretas. Desse modo, é necessário monitoramento constante das políticas econômicas e comerciais americanas, além de habilidade nas negociações.
Como pequenas concessões estratégicas podem evitar conflitos
Outra possibilidade é fazer concessões pontuais na busca de uma solução que evite retaliações severas. Nesse sentido, elas não precisam ser amplas, mas podem envolver acordos bilaterais de menor impacto. Contudo, é uma atitude que requer muita análise, especialmente, quando às alterações constantes do humor do interlocutor americano. Afinal, são muitos os exemplos recentes que reforçam a necessidade dessa prudência adicional.
Além disso, eventos de cooperação simbólica, como missões comerciais e tratados de intercâmbio cultural, em certa medida, podem suavizar o clima de tensão. Essas seriam tentativas de demonstração de boa vontade que poderiam ajudar a desviar o foco de possíveis conflitos iminentes.
No entanto, essas concessões precisam ser estrategicamente planejadas. Tudo o que um país potencialmente retaliado não precisa é transmitir a imagem de fraqueza. Ao contrário, o objetivo é criar um ambiente de diálogo, aberto às negociações e pautado por uma diplomacia bem articulada.
Medidas de reciprocidade às tarifas de importação: quando e como usá-las
O caminho mais comum a ser utilizado em resposta às tarifas de importação abusivas é a reciprocidade. Entretanto, ainda que justificável, seu uso requer muita cautela. Desse modo, retaliar com tarifas semelhantes é uma medida que pode ser eficaz num primeiro momento, entretanto, a médio prazo, pode escalar o conflito gerando ainda mais prejuízos.
Logo, uma abordagem prudente envolveria aplicação de tarifas a produtos estratégicos dos Estados Unidos, mantendo, porém, abertos os canais de negociação. Com isso, a pressão sobre o governo americano aumentaria, sem que houvesse um prejuízo drástico da economia local.
Aliás, essa conduta pode ser associada a medidas internas que minimizem os efeitos retaliatórios. O oferecimento de incentivos fiscais temporários aos setores mais afetados pode ajudar a manter a economia competitiva por mais tempo.
Investimento em infraestrutura produtiva para longo prazo
Pensando no longo prazo, a melhor resposta às tarifas de importação é o investimento na infraestrutura produtiva. Embora não seja uma ação de efeitos imediatos, países que possuem uma base industrial diversificada e moderna lidam melhor com as barreiras comercias.
Esse investimento incluiria melhorias no transporte, avanços tecnológicos e a capacitação da mão de obra. Entretanto, a modernização industrial requer a disponibilidade de recursos para produzir os efeitos desejados, como o aumento da eficiência e a redução dos custos de produção.
Além disso, devemos considerar que as políticas de incentivo à inovação tecnológica podem abrir novos mercados consumidores. Assim, mesmo com a existência de sanções, como as atuais, a capacidade resiliência de economias com esse perfil é inegavelmente maior. Desse modo, haveria não só recursos internos suficientes, como também a existência deoutros parceiros comerciais para diluir as consequências das medidas protecionistas externas.
Conclusão
As tarifas de importação impostas por Donald Trump é um alerta a todos os países, em especial para aqueles cujas economias têm forte dependência do mercado americano. Embora representem desafios, os acontecimentos recentes abrem espaço para reavaliação de rumos e estratégias comerciais.
Desse modo, diversificar as parcerias, reforçar as alianças regionais, exercer a diplomacia e estimular investimentos internos são caminhos necessários para enfrentar essas barreiras. Com isso, ao pôr em prática medidas bem planejadas, os países recentemente afetados podem mitigar os danos e até transformar essa crise em novas oportunidades comerciais.
Escrito por Mauro Motta, fundador do site Olhar Financeiro, editor do blog e especialista em planejamento e educação financeira pessoal, cujo objetivo é tornar o conhecimento financeiro acessível a todos.