Uma pesquisa recente do Datafolha revelou que 61% dos brasileiros temem o rumo econômico do Brasil. Por outro lado, apenas 32% dos entrevistados avaliam que o caminho está correto, enquanto outros 6% que participaram das entrevistas não souberam opinar. Esse sentimento de pessimismo, apontado na pesquisa, reflete as dificuldades enfrentadas hoje pelo Brasil, mesmo em um cenário de crescimento econômico favorável, que ficou acima das estimativas de 2024.
Embora o Produto Interno Bruto (PIB) tenha superado as previsões do ano, alcançando um crescimento revisado de 3,5%, os brasileiros mantiveram suas desconfianças. Em boa parte, essa percepção negativa tem relação direta com a inflação e o custo de vida presentes nas suas rotinas, o que pressiona e limita o orçamento dessas famílias. Além disso, o impacto da economia no dia a dia da população tem influência direta na opinião pública, ainda que os dados mostrem avanços econômicos.
Dessa forma, a disparidade entre as projeções econômicas e a percepção das pessoas sobre o assunto ressalta a complexidade do atual cenário. Se por um lado os números do PIB mostram melhoras, por outro, essa percepção clara de avanço econômico é compartilhada por apenas 22% dos entrevistados. Em contrapartida, temos 45% afirmando que sua situação piorou, reforçando a grande dificuldade que o governo enfrenta em relacionar os bons números da economia com melhorias visíveis na vida das pessoas.
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O menor otimismo desde 2020
Do mesmo modo, o otimismo em relação ao próximo ano também apresentou uma queda significativa. Segundo o levantamento, apenas 47% dos brasileiros acreditam que 2025 será um ano melhor, enquanto 25% esperam um período de mais dificuldades. Assim, desde 2020, o brasileiro não demonstra tanto desalento. De lá para cá, é a primeira vez que mais da metade dos entrevistados expressa sua descrença em um futuro melhor.
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Outro dado que preocupa é a expectativa quanto ao controle da inflação. Conforme os dados, 67% dos participantes acreditam que os preços continuarão subindo em 2025. A tamanha desconfiança no avanço inflacionário é reflexo da percepção de que o custo de vida está maior. Logo, tem faltado dinheiro no bolso das pessoas, com a consequente redução do seu poder de compra. Isso alimenta o sentimento de insegurança econômica que muitos externaram na pesquisa.
Além disso, 25% dos entrevistados acreditam que a situação econômica permanecerá como está, indicando uma percepção de estagnação de expectativas. Esse dado, quando somado ao alto índice de pessimismo, revela o quanto a recuperação econômica é, para dizer o mínimo, ainda modesta, na visão da população.
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Percepções sobre desemprego
Em relação ao mercado de trabalho, a pesquisa também apontou um contraste interessante. Por um lado, existem 41% de brasileiros que acreditam que o desemprego deve aumentar em 2025. Por outro lado, 33% apostam na sua estabilidade, enquanto apenas 24% esperam que essa taxa diminua. Tudo isso, apesar da redução histórica da taxa de desemprego, que ficou em 6,1% em novembro.
Neste cenário, vemos que o Brasil registrou a criação de 106.625 vagas de emprego com carteira assinada em novembro. Como de costume, continuam concentradas nos setores de comércio e serviços. Contudo, esse número representa uma queda de 12% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Mais uma vez, voltamos a observar o contraste entre os números divulgados — crescimento de 22% na criação de empregos nos últimos 12 meses — com a percepção negativa da maioria dos brasileiros sobre o assunto.
Entretanto, esse desalinhamento entre os dados do mercado de trabalho e o pessimismo da população tem explicação. A dificuldade das pessoas em identificar os benefícios das melhorias econômicas no seu dia a dia relaciona-se com fatores concretos como, por exemplo, o aumento do custo de vida e a sensação de insegurança econômica. Eles exercem forte influência na opinião pública, como demonstra essa pesquisa.
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Aumento do custo de vida preocupa os brasileiros
Outro dado que chama atenção na pesquisa é a percepção do poder de compra das pessoas. Entre os entrevistados, as expectativas não são animadoras. 39% deles acreditam que sua capacidade irá diminuir em 2025, enquanto apenas 27% esperam um aumento. Esse é mais um exemplo que reflete o impacto direto da inflação no orçamento das famílias, que têm enfrentado dificuldades para equilibrar suas despesas.
Ainda neste quesito, a pesquisa destacou que 31% dos entrevistados acreditam que o seu poder de compra permanecerá estável, reforçando a falta de expectativa por melhorias significativas. Com isso, chama a atenção a cautela da população, sinalizando seu ceticismo quanto a mudanças concretas para o bem-estar financeiro das famílias.
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Expectativas e desafios para 2025
Desse modo, 2025 chega com o Brasil enfrentando o desafio de conectar os indicadores econômicos positivos a mudanças nas percepções negativas da população. A projeção de crescimento do PIB, revisada para 2,1%, é um dado positivo, mas precisa, necessariamente, ser traduzida em avanços que beneficiem diretamente as pessoas. Além disso, sem mecanismos eficazes de contenção da inflação e aumento do poder de compra, será difícil reverter o pessimismo apontado pela pesquisa.
Portanto, o governo precisará alinhar o desempenho econômico com as expectativas da sociedade. Assim, a construção de um cenário mais otimista dependerá de ações efetivas que reduzam o custo de vida, incentivem o crescimento sustentável e promovam maior segurança financeira para as famílias brasileiras, refletindo, talvez, mais confiança no futuro.
Escrito por Mauro Motta, fundador do site Olhar Financeiro, editor do blog e especialista em planejamento e educação financeira pessoal, cujo objetivo é tornar o conhecimento financeiro acessível a todos.